quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Quem é Amida? Uma reflexão Ocidental



Estátua do Buda Amida em Camacura, no Japão     


Quem é Amida? Uma reflexão Ocidental
Mauricio Ghigonetto (Shaku Hondaku)


Este texto foi criado a partir de perguntas feitas na comunidade de Budismo Jodo Shin no Orkut.
Muitos perguntam, afinal o que ou quem é Buda Amida. Existem muitos textos que tentam explicar o mito de Amida ainda de uma maneira metafórica do jeito que ocidentais sem qualquer referencia católico-cristã possa entender. Contudo existe uma torrente de iniciantes e muitos praticantes experientes que ainda não conseguem desassociar a figura de Buda Amida de um ser supremo, regulador ou dono das ações humanas.

Para compreendermos quem ou o que Buda Amida realmente é, temos que levar em conta alguns aspectos e posturas, como seguem.

O Budismo Shin é uma tradição budista e segue os sutras budistas, portanto temos que partir do pressuposto que ele passa uma mensagem budista e cabe a nós entendê-la. Shinran Shonin (fundador da escola budista Jodo Shinshu) não era nenhum maluco e portanto merece credibilidade.

Não sendo Shiran um louco, lembro que ele baseou a doutrina da Terra Pura em ensinamentos de 7 Mestres (Shichi Kozo)renomados do Budismo e anteriores a ele: Nagarjuna (dito o "pai" do Mahayana e criador da filosofia Madhyamika), Vasubandhu (criador da filosofia Yogacara), T´an Luan (mestre chinês que compilou vários textos e sutras da Terra Pura), Tao Cho (popularizou a doutrina da Terra Pura na China), Ch´an Tao, Genshin e Honen (que foi o grande professor, mentor e inspirador de Shinran Shonin).

Também temos que a figura do Buda Amitabha e de Amithayus (Amida em japonês e Amito em chinês) é unânime em todas as linhagens budistas, incluindo o Zen, o Ch´an e as escolas tibetanas, portanto o Budismo Terra Pura não apresenta nada de novo, nem estranho à doutrina budista em geral, aliás muito pelo contrário, a única tradição que não possui este conceito é a Theravada.

Lembremos que no oriente, o uso de metáforas, alegorias e mitos para se explicar conceitos, arquétipos e fundamentos é largamente utilizado. Um exemplo: Avalokitesvara (Kannon em japonês e Kwan Yin em chinês) é representado como uma figura humana, mas não há indícios históricos que comprovem que ele definitivamente existiu, ou seja, é um mito. E muitos budistas recitam "Om Mani Padme Hung" que é o mantra de Avalokitesvara, que nunca existiu... logo, isto tb não é considerado "anti-budismo". Recitar um mantra não é confiar num
"poder" que não é o seu?

Vamos também deixar dogmas e conceitos católico-cristãos de fora. Não dá para ficar comparando Budismo com Cristianismo, pois não dá para argumentar com dogmas. e lembremos que Shakyamuni sempre utilizou métodos diferentes para explicar a mesma coisa para pessoas diferentes. Podemos dar uma explicação extremamente "técnica" sobre o assunto, mas querendo evitar tal prática, pretendemos tentar explicar de uma maneira mais coloquial, mais acessível a todos.
Muito bem, isto posto e entendido vamos lá.
É muito comum criarmos uma confusão mental quando tentamos entender um mito ou a personificação arquétipica tão comum na Índia e ocidente em geral, pois geralmente entramos em conflito com nossas bases católico-cristãs.

 Você se sente assim? Bem-vindo ao time!
No começo, tudo geralmente é muito estranho, mas sempre temos que ter em mente que estamos numa escola budista, logo tudo tem que ter
uma lógica clara...

O que é o Budismo?





O Budismo é um sistema Filosófico-Religioso de auto-realização, que tem sua origem no norte da Índia, no século VI a.C., baseado na experiência de iluminação e ensinamentos de Sidarta Gautama, também conhecido como Shakyamuni, o Buda. A palavra Buda, ao contrário do que muitos pensam, não é um nome e sim um título que significa Desperto, Acordado, Iluminado.
O Budismo, apesar de ser considerado uma das grandes religiões do mundo, não deve ser considerado como religião no sentido estrito da palavra, uma vez que não possui uma figura de “Deus”, “dogmas” e outras características próprias das religiões em geral.
A palavra “religião”, segundo a tese comumente aceita pelos cristãos desde o tempo de Santo Agostinho, viria do latim religio, do verbo religare e teria o sentido de religar o homem ao seu criador, do qual ele teria se afastado devido ao pecado original (na tradição judaico-cristã).
No caso do Budismo, não havendo uma figura de um “Deus Criador”, um “mito da criação” e, por conseguinte “pecado original” e toda a sua conseqüência, a palavra religião, neste sentido, não seria apropriada.
Mas se buscarmos mais a fundo a origem da palavra “religião”, poderemos encontrar outros sentidos mais abrangentes.
Segundo a Dr.ª Marie-Louise von Franz :
“Há uma discussão etimológica sobre se a palavra religio deriva de religare ou de relegere. Naturalmente, ambas têm a mesma raiz: legere, “escolher”, “eleger”, “juntar”, “apanhar” etc. Originalmente, referia-se a apanhar ou colher madeira, mas legere, “ler”, tem outra conexão: a pessoa “escolhe” ou “reúne” as letras, uma a uma; é assim que as pessoas começam a ler e que as crianças ainda hoje aprendem a ler. (…) Etimologistas modernos pensam que, provavelmente, religio deriva da palavra relegere, o que significaria “consideração cuidadosa (…).” (VON FRANZ, Marie-Louise,  Alquimia – Introdução ao Simbolismo e à Psicologia, São Paulo, Cultrix, 1996.)
Por outro lado, o termo “filosofia”, mesmo que tomado de empréstimo da cultura grega, não se aplicaria devidamente, pois reduziria o Budismo a um método puramente racional.
No oriente, o Budismo é designado pelo nome “A Doutrina de Buda”, ou simplesmente “O Caminho de Buda”. Já no ocidente, podemos adotar a definição de “religião”, levando em conta que além do desenvolvimento de uma lógica própria, uma dialética também própria e até mesmo um tipo característico de diálogo do Buda com seus discípulos, muito semelhante aos diálogos de Sócrates com seus discípulos na Grécia antiga (a maiêutica), o Budismo possui também o conceito de “Sagrado” e de “Transcendental”, está organizado em congregações com regras disciplinares, ritualística e liturgias próprias e seus “monges” vivem geralmente em “mosteiros”.

Buda Amida


Esta estátua de Buda Amida é o objeto central de reverência no altar do nosso templo.  
A estátua foi esculpida pelo famoso escultor japonês Koei Eri.
 Foi exibido no Japão e na Europa, antes de ser instalado no templo.
A figura está sobre um estrado em forma de uma flor de lótus.
Inclina-se ligeiramente para a frente, representando a natureza dinâmica da Sabedoria Compaixão. 
O mudra (gesto de mão) significa tranquilidade e proteção. Os dedos polegar e indicador das duas mãos se juntam para formar o círculo da perfeição (isto é, o Dharma perfeita e eterna do Buda). A mão direita é elevada a nível do ombro, com a palma virada para fora, simbolizando a sabedoria. A mão esquerda fica pendurado com a palma virada para fora, simbolizando compaixão.
O ponto um pouco acima e entre os olhos é uma das 32 marcas físicas de um Buda e é um símbolo do terceiro olho ou espiritual. A protuberância na parte superior da cabeça é outra das 32 marcas e sabedoria espiritual simboliza.
Atrás da cabeça é um disco esculpida com um motivo flor de lótus. 
Os raios representam raios de luz. 
http://www.calgary-buddhist.ab.ca/statue.htm