segunda-feira, 14 de maio de 2012

SABEDORIA ENCARNADA COMO COMPAIXÃO





Na vida das pessoas comuns podemos ver a sabedoria oculta agindo através da devoção à Kuan Yin, como uma espécie de meio hábil empregado pelo Buddha para trazer, de alguma forma, o Dharma para estas mesmas pessoas em meio aos seus sofrimentos. Ao ser oferecida uma espécie de acesso à compaixão de Kuan Yin através de incontáveis imagens, textos, poemas e praticas devocionais, as pessoas ainda ganham força para encarnar a compaixão em suas próprias vidas.

Com o desenvolvimento da devoção à Kuan Yin, a sabedoria permaneceu como uma importante virtude, mas aos poucos a compaixão passou a desempenhar um papel mais importante no status relativo das virtudes budistas, especialmente entre as analfabetas pessoas comuns. Assim, houve uma ligeira mudança no sentido do “ caminho do bodhisattva “. Sendo essencialmente um caminho para alcançar a mente iluminada, tornou-se a forma de ação compassiva para salvar outros. No entanto a compaixão é melhor vivenciada na pratica da hábil e ativa ação compassiva. As ferramentas nas mãos dos mil braços de Kuan Yin, simbolizam os muitos meios através dos quais a bodhisattva pode ajudar os seres vivos que precisam. Essa imagem é, creio eu, muito reveladora pois mostra o tipo da sabedoria manifesta na devoção à Kuan Yin – não a do tipo de conhecimento esotérico na mente apenas, mas a sabedoria prática encontrada não só na mente, mas também nas mãos.

A compaixão não deve ser vista em contraste com a sabedoria, mas apenas em contraste com a sabedoria mundana. Para ser verdadeiramente compassivo e encarnar esta compaixão, é necessário não apenas senti-la, ou pensar sobre ela ou contemplá-la. Trata-se de atualizar a compaixão no mundo, onde quer que estejamos, e, portanto, em nossas relações com parentes, vizinhos, amigos e até desconhecidos. Isso é ser compassivo. Esta é uma maneira de encarnar o Buddha  e dar vida a ele no mundo atual. Isso significa que Kuan Yin pode ser vista não só em muitas belas imagens nos templos e museus, mas também em nossas mães ou filhos, ou vizinhos. 

Dessa forma Kuan Yin é não só um símbolo de compaixão, a bodhisattva é a compaixão manifesta, e para que a compaixão possa ser visualizada, Kuan Yin manifesta suas formas. Kuan Yin não é uma divindade olhando para o mundo a partir de uma distancia prudente, mas a compaixão do Buddha encarnado no mundo real, o mundo dos homens e mulheres comuns.

A tradição diz que nós mesmos devemos encarnar Kuan Yin e que se, por exemplo, nos concentrarmos em Kuan Yin e recitarmos o capitulo a respeito de Kuan Yin, podemos nos abrir para a compaixão- não para alguma compaixão abstrata exercida a partir de uma distancia, mas realmente para a ação compassiva em nossas próprias vidas e comportamentos.
Um poema chinês diz:

“ O corpo de Dharma de Kuan Yin,
   não é masculino nem feminino.
   Mesmo que o corpo não seja o corpo,
   Que atributos pode haver?...
   Que seja conhecido por todos os budistas:
   Não se apegue a forma.
   O bodhisattva é você:
   Não é a imagem. “

O Capítulo 25 do Sutra de Lótus intitula-se “ A Passagem Universal da Bodhisattva Kuan Yin “. O Portão ou Passagem Universal implica que, embora pareça que devamos nos tornar monja ou monge e isso é extremamente difícil para um leigo, o caminho de Kwan Yin está aberto para todos. Isso pode se entendido como relacionado à idéia da universalidade da natureza búdica, a idéia de que cada ser vivo tem a capacidade e o poder de se tornar um Buddha. Mas a porta de entrada universal de Kuan Yin não é necessariamente dependente da idéia relacionada à natureza búdica. 

Ele é dependente, sim, de que todos podem ser compassivos, o qual é um objetivo muito mais accessível do que se tornar um Buddha. Kuan Yin, em outras palavras, torna o budismo aberto e accessível a todos.
No Sutra de Lótus, esta idéia é sugerida por uma lista das encarnações de Kuan Yin. Muitas vezes considerada como trinta e três, e ainda assim são associadas a outras listas de trinta e três, tal como o Céu dos Trinta e Três Deuses. O Sutra de Lótus não menciona o número trinta e três, mas fornece uma lista que pode ser facilmente considerada como trinta, trinta e dois, trinta e três, ou mesmo trinta e cinco. Nos templos da China não é raro ver um conjunto de trinta e dois ou trinta e três painéis retratando as diversas formas em que Kuan Yin é corporificada. Não há espaço suficiente para incluir a lista inteira aqui, mas algumas observações devem ser feitas.

Em cada caso, o texto diz que, para aqueles que precisam de alguém em tal e tal corpo, Kuan Yin aparece nessa forma e ensina o Dharma a eles. Isso significa que o aparecimento de Kuan Yin, a maneira como Kuan Yin aparece para alguém, dependerá do observador e do que este precisa. Em outras palavras, Kuan Yin aparece para as pessoas sob muitas formas, não como um meio de exibir poder sobrenatural, mas como um meio para satisfazer as necessidades das pessoas – o qual no ínicio do Sutra de Lótus é chamado de “meios hábeis”. É por isso que, com exceção dos nomes de alguns deuses, a lista é uma relação de títulos genéricos. Por exemplo, diz que Kuan Yin aparece na forma de um rei, mas não diz que ela aparece sob a forma do “ Rei Fulano de Tal ”. Isso significa que Kuan Yin pode aparecer diante de nós sob a forma de alguém que conhecemos e ao mesmo tempo independente de condição social, gênero ou até mesmo espécie, podemos encontrar Kuan Yin sob qualquer forma.

A lista do texto inclui Shravakas, pratyekabuddhas e divindades, mas começa com a encarnação de Kuan Yin como um Buddha. “ Se os seres vivos precisam ser salvos por um Buddha em qualquer terra, o Bodhisattva que ouve os clamores do mundo aparece como um Buddha e ensina o Dharma para eles. “ Qualquer estudioso budista, na verdade qualquer monge ou cultos sacerdotes, pode lhe dizer que Kuan Yin é um bodhisattva, não um Buddha. Mas inúmeros leigos, e não poucas monjas, lhe dirão que Kuan Yin é um Buddha plenamente desperto, que escolheu estar neste mundo para ajudar a aliviar os seres vivos do seu sofrimento, uma idéia que também pode ser encontrada em grande parte da literatura chinesa. 

A afirmação no Sutra de Lótus de que Kuan Yin aparece no corpo de um Buddha para ensinar o Dharma para aqueles que precisam de alguém no corpo de um Buddha afim de ser salvo, sugere que é bastante razoável para Kuan Yin ser o Buddha para alguém que precise. Essa tendência das pessoas comuns no leste da Ásia em encarar Kuan Yin como um Buddha, pode ser visto como incorporando um certo tipo de sabedoria, uma sabedoria que compreende que o Buddha vem até nós sob muitas formas diferentes, incluindo as de Kuan Yin. Embora muitas vezes vista pelos estudiosos como originaria das escrituras, a devoção popular à Kuan Yin pode ser vista como um cumprimento do que é afirmado no Sutra de Lótus de que Kuan Yin pode existir e agir sob a forma de um Buddha.

fonte:lotus branco de kwan yin

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